sábado, 21 de setembro de 2013

Sem sentido

Vestimos roupas para não sentir frio
Usamos guarda-chuva para não sentir a chuva
Comemos para não sentir fome
Dormimos para não sentir sono
Bebemos água para não sentir sede
Fazemos sombra para não sentir o sol
Nos perfumamos para não sentir odor
Temos luz para não sentir a escuridão
Inventamos o amor para não sentir solidão
Sentimos para sobreviver
E vivemos para não sentir

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Poesia

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

Carlos Drummond de Andrade


Atahualpa Yupanqui - Basta ya!

O invisível dos ruídos

Escuto
Latas batendo na margem da rua
Pano sendo torcido no final do corredor
Caminhão fazendo uma manobra
Vozes gritando em busca de comprador
Uma lixa esfregando contra a parede
Teclados no canto de uma sala
Aspirador sugando nossas almas
Alguém bocejando e uma conversa sem esperança
Gotas de chuva batendo contra a toca
O choro de dor de uma criança
A catraca sendo rodada e a corda sendo puxada
Uma máquina de costura sufocando nossos corpos
O tintilar de copos e pratos
Uma vassoura juntando o que nos resta de terra
Uma descarga eliminando parte da merda
Uma moto berrando, implorando para parar
A televisão desinformando
Um sorriso escapando
Corações querendo bater
Instrumentos protestando, instrumentos alienando
Um pássaro pedindo liberdade
Serras destruindo para construir
O vento querendo carregar
Suspiros para respirar

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Não viver, para viver

Nasci pobre
De pai trabalhador
Que cresceu com a ideia de trabalho dignificador
Trabalha! Não tem solução
Pois no meio dessa confusão se necessita comer e dar de comer
Então fez-se o que podia, já que terra não possuía
Sacrificou horas do seu dia, horas de sua vida, fazendo algo só por fazer, só para receber
Necessitava comprar comida, pagar moradia, garantir educação e quem sabe uma aposentadoria
50 anos passaram e não viu o que passou
Queria mais tempo
Queria viver!
Parece tudo tão simples de entender
Mas você já se perguntou: por quê?
Não se culpe se não
O ditado já pregava: mente vazia, oficina do diabo
Que faz lendo poesia?
Vai trabalhar seu safado!

domingo, 15 de setembro de 2013

Não tem graça

Estou caminhando pela calçada
Calçada quebrada e estreita
É dia
Faz calor e sol
Meu olhos identificam duas pessoas
Caminho um pouco mais
Percebo que são dois homens sem camisa
Estão parado em frente a uma obra
Decido passar sem atravessar a rua
Mesmo sabendo o que vou escutar
Puta que o pariu... é o que tenho vontade de gritar
E até meu grito entalado é machista

Rota, rotatória


Depois de um caminho cheio de curvas, subidas e descidas
Encontro-me presa numa rotatória... girando e girando
Estou tonta
Sem já saber por onde cheguei